segunda-feira, 16 de julho de 2012

K21 Ilha do Mel. Por: André Savazoni



Vamos partir de um princípio básico, a participação no K21 Ilha do Mel não resume-se somente ao dia da prova. Para a maioria, a aventura começa na véspera ou antevéspera, depende da sua disponibilidade de tempo. Ao chegar no arquipélago, a sensação é de uma viagem no tempo. As facilidades tecnológicas são deixadas de lado. Não há nem iluminação nas ruas, percorridas somente a pé ou de bicicleta. Por essas características, é uma corrida única. Mas a corrida em si também não fica atrás, tem dificuldade para todos os gostos.

Minha aventura começou na madrugada de sábado, saindo de casa às 5h em direção ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Chegada em Curitiba às 9h, quando o Marcos Tavares da Silva, o Tomate, da MTS Performance Assessoria Esportiva me esperava, com sua família. De carro, partimos em direção à Pontal do Sul. Descida pela Serra da Graciosa, vendo o percurso da Subida da Graciosa, que ocorre em outubro. De carro, já fiquei cansado. E olhe que estava descendo… mas fiquei com uma vontade de voltar para a corrida…

Cerca de 2h30 até Pontal do Sul. Carro estacionado e travessia para a Ilha do Mel em uma pequena lancha, de seis lugares, que estava fazendo o traslado para a organização do K21. Uns 40 minutos de mar, algumas ondas, e uma visão geral, do arquipélago, que foi crescendo aos poucos… Desembarque em Brasília, uma das duas comunidades do local (a outra é Encantadas). A partir desse momento, você vai tendo o contato direto com a natureza e as características próprias da Ilha.

Não há iluminação pública nas ruas, que são percorridas a pé ou bicicleta. Outro meio de transporte? O barco. Celular e internet, pegam muito mal. Em alguns pontos, há sinal. Mas fraco. Fiz o básico: desliguei o meu. E me desliguei do mundo. Qualquer coisa, minha família tinha o telefone da pousada. Ah, em dias de vento forte, como ontem, pouca coisa funciona. Cai tudo. Por sinal, um parênteses aqui. No sábado, estava uma temperatura agradável na Ilha, mar calmo, maré baixa, noite estrelada… porém, na madrugada, tudo começou a mudar: frio, vento bem forte, muitas nuvens, nada de sol, garoa e frio!.

Alimentação, basicamente, peixes frescos e frutos do mar. Não sou um fã de peixes, mas estavam bons demais. Lanterna é um equipamento fundamental, principalmente para as caminhadas noturnas (a não ser que queira ficar dentro do quarto ou guiar-se pelas sensações no breu total). Devido à escuridão da noite, o céu parece um tapete de estrelas. Animais há diversos. Golfinhos, peixes, aves, pinguins… Vi até coelho. Sem contar aranhas. Uma enorme resolveu passear pelo no teto do meu quarto, às 6h do domingo. Nunca acordei tão rápido e tão esperto para uma prova!

Fogos de artifícios são proibidos (palmeirenses e corintianos iriam sofrer…), assim como animais domésticos e plantas exóticas. Além disso, como é uma reserva natural e há um limite de 5 mil visitantes diários, a experiência é única. Tudo fica muito vazio. Mesmo em final de semana de Festival da Tainha. Junte-se, então, uma prova desafiante, de 21 km (21.300 m para ser mais exato). Esse foi o cenário.

A prova passou por diversas praias da Ilha do Mel e pelos caminhos usados para deslocamento. Tudo praticamente plano. Apesar do vento forte contra e frio, dava para imprimir um bom ritmo. Mas quando houve subidas e descidas, foram de tirar o fôlego. A começar pela trilha íngreme para a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, toda feita com pedras. No alto do morro, pedras e canhões voltados ao litoral. Fiquei pensando no esforço e vidas perdidas para montar essa estrutura…

Outro ponto de destaque (e muito esforço) foi a subida para o Farol das Conchas. Uma longa escadaria em pedra. Para completar, no último morro, havia uma trecho em aclive tão inclinado que, para subir, só com o auxílio de uma corda instalada pela organização… era segurar e não olhar para baixo… Um vaievem no costão, com o mar batendo, completaram o perfil.

Costão esse que me causou o quarto tombo do ano, uma canela toda cortada e um pouco de sangue escorrendo (como dá para ver na foto). O pior é que levantei e, ao voltar a correr, percebi que meu óculos tinha caído. Voltei para buscá-lo. Esse finalzinho me custou o sub 2h que queria (além dos 21.300 m, claro). Fechei a prova em 2:00:17. Corri bem forte nos trechos planos, mesclei caminhada e trote nas subidas, porém, nas descidas em trilhas, fui bem devagarzinho. Não me arrisco não!

A média geral do K21 foi muito boa. A prova é perigosa, até mais do que outras de montanha pelas características do local, então, acredito que a presença de socorristas caminhando pelo percurso (como ocorre no K42 Bombinhas) seria um benefício. O vaievem na subida da Fortaleza e no costão, ficaram um pouco tumultuados pelo movimento. O pessoal subindo mais lentamente e outros descendo a “milhão”. E, no costão, a mesma coisa com o tráfego contrário. Melhorias que podem ser pensadas para 2013 caso o K21 do Paraná permaneça na Ilha do Mel.

Houve três pontos de controle, onde foram entregues pulseiras para os corredores. Acredito que usar aqueles elásticos de cabelo ou as pulseiras que batem e ficam no braço, seriam melhores alternativas. As entregues, daquelas com um encaixe para fechar, complicaram um pouco. Eu coloquei as minhas no bolso e fechei o zíper, mas há sempre o risco de caírem…

Hidratação com água praticamente a cada três quilômetros e um ponto de isotônico em saquinho foram perfeitos. O kit veio com camiseta, dois GU, sacolinha e um porta-número (os alfinetes foram abolidos, o que gerou reclamação de alguns, mas a justificativa foi o lado ecológico da Ilha). E como a aventura não terminava na prova, o retorno para casa ainda teve 40 minutos de barco com o mar bem mexido, com muito sobe e desce, numa verdadeira montanha-russa marinha. Um pneu esvaziado, estrada e muito frio até Curitiba. Esse foi o diário de mais uma aventura. Que venha a próxima. Em montanhas, será o K42 Bombinhas.

Fotos: Bombinhas Runners

Por:  André Savazoni

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